REALLY?
Esta semana, nas minhas turmas, comecei a introduzir os elementos da arte. Falámos das linhas e da sua importância — não apenas na criação artística, mas também na forma como estão presentes no nosso dia a dia. Conversámos sobre as diferentes formas que podem assumir (eu adoro uma boa linha “rústica”) e apresentei-lhes alguns pintores que fizeram das linhas exercícios memoráveis.
Picasso explorou o traço contínuo, fazendo retratos sem levantar o lápis ou o pincel. Miró, por sua vez, utilizava a linha como elemento gráfico e poético, criando composições onde as linhas pareciam flutuar no espaço, dando origem a figuras e formas cheias de movimento e imaginação.
Mas falar de pintores sem lhes mostrar a obra é o mesmo que deixar as janelas abertas em dia de tempestade…
Fomos então de visita a alguns museus onde é possível aceder a obras e coleções destes artistas (as “coisas boas” do digital). E aqui começa o que realmente vale a pena ser contado: a magia da arte.
Uma sala entusiasmada ao ouvir a palavra museu e, simultaneamente, um silêncio (até assustador) ao verem cada uma das obras. Ouvem-se breves sons de espanto e as perguntas saltitam como pipocas…
— “Foi ele que fez?”
— “Como pintou?”
— “Quem é essa senhora?”
— “É estranho!”
As perguntas foram muitas e nem todas eu tinha uma resposta imediata, mas é da curiosidade que nasce o conhecimento — e fico muito contente por vê-los questionar e com vontade de saber mais.
Conseguiram fazer o que muitos adultos não conseguem: permitirem-se sentir o que viam e tirarem as suas próprias ilações sobre o tema ou o objeto de cada obra. É esta forma que eu gostaria que pudessem levar para a vida: permitir-se sentir a arte (seja de que tipo for) é mais importante do que tentar descobrir o que o artista quis dizer-nos — sem, claro, lhe tirar o valor.
Os artistas criam a partir das suas emoções e esperam que quem observe sinta “algo” também.
As crianças percecionam a arte à sua maneira — e está tudo certo. Não lhes coloquem limitações ao que observam, nem ignorem os seus comentários. Façam ainda mais perguntas e tentem chegar até onde o coração as levou.
Até ao próximo traço!
